08 março 2005

Meus filhos, minhas alegrias e dores.

Dia 31 de março é a colação de grau do meu filho caçula, e dia 19 de março é a colação do meu filho do meio.

Ontem, procurando fotos de quando eles eram bebês, pra escolher uma bem fofa de cada um. Difícil, eles eram tão lindos...

As fotos são pra botar no telão (tem disso, né?).

Fiquei passada e parada no tempo.

Que saudades senti.

E fui mexendo, virando, olhando, sentindo.

Quando, de repente, encontro uma caixinha. Uma caixinha bem guardadinha, que nunca vi, desde que meu primeiro filho morreu. Quer dizer... nesses anos todos, vi apenas uma vez. Meu marido guarda muito bem. Não olha e não quer que eu olhe.

Pois bem: Encontrei a caixinha de fotos do meu primeiro filho, que se foi.

Não sei dizer o que senti. Ali, guardadas, as fotos, a lembrancinha do nascimento, a lembrancinha do batizado.

Realmente não sei o que senti.

Foi uma confusão de coisas. Dor, perda, amor, impotência (gratidão, até). O que ele seria hoje, meu Deus?



Não sei, mas sei que devo reverenciar tudo o que tenho hoje, principalmente a saúde, inteligência e integridade dos meus três filhos, que comigo ficaram.



Deveria haver uma lei, em que NUNCA, em hipótese alguma, os filhos se fossem antes dos pais.



Não, não estou triste.

Estou apenas pensando, refletindo. Tenho um nó na garganta, mas não é tristeza. É um pensar constante, nessas três pessoas que impulsionam a viver: Bruno, Felipe e Caio.

Há coisas que jamais compreenderemos.



Abaixo, um texto que escrevi há algum tempo.

Foi a primeira vez que escrevi algo sobre Caio, meu primogênito.





À SOMBRA DO MUNDO ERRADO
Mariazinha Cremasco

"Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança.
Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime."
Fagundes Varela - Cântico do Calvário

Nasceu do amor. Nasceu lindo, aparentemente saudável. Quatro quilos e quarenta gramas, cinqüenta e um centímetros. Olhos azuis, cabeça lisa com penugens douradas. Mãe morena. Pai claríssimo. O avô paterno tinha olhos azuis, o materno também. Puxou a eles na cor dos olhos. Puxou ao pai na brancura da pele, puxou à mãe na carinha redonda. Lindo menino.

Trouxe a luz, alegria, esperança, amor, vontade de viver, trouxe sonhos.

Os sonhos duraram pouco tempo. Adoeceu aos quatro meses, morreu antes de completar um ano.

Como seria se fosse vivo hoje, vinte e quatro anos depois? Alto? Certamente sim. Loirinho? Provavelmente os cabelos escureceriam um pouquinho, como os cabelos dos irmãos que nasceram depois. Bom caráter? Bom filho? Bom homem? Estaria estudando ou já estaria formado? Gostaria de ler, escrever, pintar? Qual seria sua profissão? Que tipo de música gostaria de ouvir?

Entre tantas suposições, apenas uma certeza. Onde está nesse momento, não corre riscos. Está seguro. Dentro dessa certeza, outra dúvida. Existe esse lugar? Não sei, não saberei. Se eu pudesse ter certeza de que há um lugar em que ele esteja bem e que possa olhar por nós, eu pediria "meu filho, cuide de seus irmãos, que estão 'nesse' mundo".

1 Comments:

At 8/3/05 14:20, Blogger Marcia said...

Pra que palavras?
Minhas lagrimas são meu testemunho.
Voce é uma mulher de primeira, te admiro muito.

 

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