Me culpa.

Passei por uma experiência horrível hoje. Sempre fui muito encanada quanto à atropelar um animal. Meu irmão uma vez, dando marcha à ré no carro, atropelou e matou um gatinho filhote, e ficou inconsolável. Até hoje ele não consegue falar sobre isso. Desde então, tenho meu pé atrás.
Sempre que entro no carro, tomo o maior cuidado. Chamo, espanto, mando embora, levo pra dentro, essas coisas.
Hoje não foi diferente. Eu ia sair e não tinha gato algum ao alcance de minha vista. Abri os portões, entrei no carro, liguei o rádio, tudo na maior calma. Quando coloquei a marcha e andei um pouco, ouvi uns miados assustadores.
Tremendo e sem sair do carro, meti a mão na buzina e gritei pela Maria. Ela veio correndo, assustada com meu chamado e com os "gritos" do gato.
-Maria, não tenho coragem... olhe atrás do carro. Devo ter atropelado algum gato e não tenho coragem de andar pra frente e nem pra trás. Ajude, por favor.
-Não, fique tranquila... não tem gato algum - disse a competente Maria nessas horas aflitas - o Léo entrou correndo e foi pros fundos da casa, mas ele está bem.
-Como você sabe que ele está bem?
-Apois... ele entrou correndo e sem mancar ou sangrar.
Não acreditei e desci do carro. Achei alguns pelos como "tiras", não sei explicar. Fiquei apavorada.
Chamei o Léo, afiei a faca na pia e nada dele. Procuramos dentro dos armários, debaixo das camas e nem sinal.
Apavorada, saí para cumprir meus compromissos. Era meio dia.
Voltei as 13:30, com metade por fazer. Não tinha condições de ficar na rua. Nesse meio tempo liguei várias vezes pra Maria e nada do Léo.
As 15 horas em ponto, O. chegou. Eu apavorada pelo que tinha acontecido e por contar à ele, abri a porta. Pela minha cara, O. já percebeu que algo não ia bem. O Léo sempre vem recebê-lo.
Depois de 3 minutos o Leozinho aparece, todo jururu e andando devagar. Foi direto pro quarto e subiu na cama. Fui atrás e vi um ferimento (parecia mesmo uma fatia tirada) no rabo dele. Feio. Muito feio. Imagine um pedaço de couro cabeludo arrancado, comprido. E começava bem na base do rabo.
Creio que ele ficou preso na roda do carro e se soltou, puxando o corpinho. Ai, que dor deve ter sentido. Mexi nele e ele miou de dor. Aquele miado grosso, sabe?
Fomos na mesma hora pra veterinária. Ela examinou e disse que nada estava quebrado, mas que se tivesse rompido alguns ligamentos (bem no cóccix) ele teria uma insensibilidade no rabo e talvez tivesse que ser amputado. Injeção de analgésico e antiinflamatório e "repouso", voltar na sexta para maiores exames e detalhes.
Ele continua jururu, só tomando água e dormindinho. Acho que é efeito da injeção. O ferimento vai sarar sozinho, a pele regenera e os pelos provavelmente não voltam a crescer.
Estou tão chateada... não sei o que dói mais: ver o gato nesse estado, ver o sofrimento do O. ou a minha sensação de culpa.
Eu fico repetindo pro O. que não tive culpa, mas parece que eu mesma quero me convencer disso.