02 janeiro 2009

Bla blá blá da Pereira, minha amiga!

O Acordo Ortográfico em português claro

Quem foi alfabetizado até 1971 certamente lembra de alguns acentos imprescindíveis como, por exemplo, o circunflexo do advérbio "tôda", que tinha a importante função de diferenciá-lo do substantivo "toda", com o "o" aberto. O que você não lembra, ou melhor, jamais soube - a não ser que seja um daqueles gramáticos responsáveis pela mudança ortográfica global da língua portuguesa de 1943 - é que "toda" é um passarinho australiano que até os zoólogos locais desconheciam completamente.
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Isso explica o espírito da tal mudança global, mas nem de longe justifica a abolição de três letrinhas "supérfluas" do alfabeto. Afinal, se elas foram julgadas e condenadas porque podiam ser facilmente substituídas pelo V, pelo I e pelo C, por que cargas d'água ainda somos obrigados a usar S e X com som de Z, X e SS com som de C e o diabo do C cedilha? Por falta de opção eu juro que não é.
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Mas, enfim, são águas passadas: em 1971 os novos gramáticos decidiram reformar a reforma dos antigos gramáticos, libertando-nos da maior parte dos acentos diferenciais e daquele acento grave dos velhos cafèzinhos e das palavras terminadas em "mente".
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De lá pra cá, foram trinta e sete anos de sossego. Tempo mais do que suficiente para que até eu aprendesse a escrever de maneira decente. E agora vai ficar melhor ainda, porque os novíssimos gramáticos, desta vez com apoio da comunidade lusófona, decidiram reformar a reforma dos novos gramáticos e transformar esta nossa língua tão simples em algo mais fácil ainda.
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Começaram pelas letras supérfluas, que agora deixam de ser supérfluas e voltam para o alfabeto. Muito nobre, mas nenhuma providência contra o C cedilha, que jamais esteve no alfabeto embora figure em todos os teclados.
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Depois aboliram a trema, o que não faz a menor diferença: tanto a lingüiça como a linguica têm o mesmíssimo valor calórico e quem é dado à delinquencia não vai se recuperar por causa isso.
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Também decidiram que "não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas", mas que "as oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis continuam a ser acentuadas". Ou seja: se você conseguir que um adolescente normal compreenda a instrução e aplique a regra, será o meu herói. Com acento.
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E que "nas palavras paroxítonas não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo, mas se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final ou seguidos de s, o acento permanece". Excelente. O tuiuiú deve estar exultante.
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Se por um lado fizeram algumas mudanças lógicas como, por exemplo, eliminar o acento das palavras terminadas em êem e ôo, por outro criaram o álibi perfeito para mal-entendidos, derrubando o acento diferencial entre pára e para.
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Pêlo e pelo, tudo bem. Pólo e polo, a gente entende. Mas será que a interpretação de "trânsito pesado para a cidade" é tão óbvia assim?
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Mas a gente releva porque, afinal, graças a Deus os acentos diferenciais de singular e plural dos verbos ter e vir permaneceram. Afinal, todo mundo sabe que, do ponto de vista prático, nunca fez a menor diferença saber se é para "parar alguma coisa" ou se é "para alguma coisa", mas sempre foi indispensável deixar bem claro que frases como "vocês vêm comigo" e "vocês vem comigo" têm significados completamente diferentes, até porque uma está certa e a outra está errada. Viu só como esta regra tem sentido?
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Isso sem falar no novo emprego do hífen, sobre o qual só vou tecer três pequenos comentários:
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1. Tudo o que você conhece hoje por panamericano passou a ser, oficialmente, pan-americano.
2. "Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição", seja lá o que isso queira dizer.
3. "Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte". Ah bom! Agora tudo ficou muito mais claro, pra mim.
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Maluco mesmo era o Mário de Andrade que, há 64 anos, fez a seguinte declaração:
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"Acredito que a questão ortográfica tem contribuído muitíssimo para a desordem mental no Brasil". Então é isso?
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Do blog da Roseli Pereira, amiga e "ídala". Ela escreve com um humor invejável! Beijos, Roseli!

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1 Comments:

At 5/1/09 12:29, Blogger Marcia said...

mas se o povo não sabia escrever antes, imagine agora com essa dança de hifem (ou´será hifen???)
Saco, ensinem primeiro o basico, depois mudem tudo, se quiserem.
Alias, o Portugal nem tchum!

 

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