16 setembro 2005

Folha de São Paulo

NELSON MOTA


16 de Setembro DE 2005, Cazuza canta Severino

RIO DE JANEIRO

"Vamos pedir piedade,
Senhor, piedade
pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade,
Senhor, piedade
lhes dê grandeza e um pouco de coragem."

Não, Cazuza não estava falando de Severino e de seus ratinhos do baixo clero em "Blues da Piedade", no caso seria mais apropriado "Forró da Piedade", mas, como todo bom poeta, ele também era profeta. E, ao contrário deles, com sua grandeza e coragem, Cazuza enfrentou e venceu a intolerância e o preconceito. Mas perde sempre para a ignorância.

Mais de dez anos depois de sua morte, ele revive, irônico e cortante, quando Gabeira responde com seus versos -mortíferos como um cheque nominal- às "acusações" de homossexualismo e consumo de "tóchico" (sic) feitas pelo caricato machão nordestino.

"Nos chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
porque assim se ganha mais dinheiro
."

Só a piedade pode explicar os 156 votos a favor de Roberto Jefferson. No caso, piedade deles mesmos. Eles também terão piedade de Severino. Se esses dois escapam, ninguém pode ser condenado, copiaram? As piscinas deles estão cheias de ratos e suas idéias não correspondem aos fatos. Mas o tempo não pára, e aparecerão os cheques, os telefonemas, as secretárias e os motoristas, e eles voltarão aos seus grotões, ostentando macheza e protestando inocência.
Quando Cazuza dizia querer uma ideologia para viver, queria sinceramente acreditar em alguma coisa e, ao mesmo tempo, debochar dos crentes otários e de velhas mentiras. Dizia a bola de cristal poética:

"Meu partido é um coração partido
e as ilusões estão todas perdidas
os meus sonhos foram todos vendidos
tão barato que eu nem acredito".

Poderia chamar-se "Balada do Mensalão" ou "Melô do Petê".
Mas vamos pedir piedade,

"pois há um incêndio sob a chuva rala
somos iguais em desgraça
vamos cantar o blues da piedade".

2 Comments:

At 16/9/05 17:45, Anonymous Anônimo said...

eu chamaria isto de o post perfeito!
bjs

 
At 16/9/05 23:14, Anonymous Anônimo said...

Marietinha,

pôxa, fico até encabulada de ver o link para o meu blog aí do lado. Obrigada, querida.

A Quel tem razão, é o post perfeito. Não à toa, Cazuza foi chamado de O Poeta de uma Geração.

Quero também falar sobre um post ali embaixo "Fé e mãe".

Sabe, outro dia, conversando ao telefone com minha sogra, contei que minhas filhas estavam na Barra da Tijuca na casa da minha cunhada, mas que elas já estavam demorando muito pro meu gosto. Ela, que é nervosíssima, disse: ah, minha filha, é tão perigoso, não é?
Eu respondi: é, mas o que eu posso fazer, qualquer lugar é perigoso, e depois que a Joana passou os últimos 8 anos andando pela linha vermelha, eu tento me controlar. Ela disse, então: É a gente tem é que entregar nas mão de Deus mesmo. E eu respondi: eu entrego, é só o que eu posso fazer.

Mas a verdade, é que eu fico que nem você, Marieta, numa neura só, então adorei o que sua mãe falou "entrega mas segura no cadarço do Tênis". Acho que é exatamente assim que eu fico.

Um dia eu ouvi, numa novela do Manoel Carlos, uma personagem dizer, a Paz das mães é ver os filhos dormindo em casa à noite.

A gente sofre, né? Mas eles são tão lindos......

Um beijo

 

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