03 outubro 2007

Vida de tradutor.

Dia 29 foi dia do tradutor. E como eu tenho 4 amigos tradutores (acho que a Cris K. também é), um deles escreveu esse depoimento, quando eu o parabenizei pela data:

Dia do tradutor.

É uma coisa diferente.

Ninguém pensa que ler um livro em portuguÊs significa que ele foi totalmente reescrito, reinterpretado por outra pessoa que não o autor.

Traduzir tem uma coisa de realização íntima.

As pessoas chegam dizendo que precisam de uma traudução rapidinha. É só uma página de jornal! E mal imaginam que uma página de jornal tem dezenas e dezenas de laudas com aquelas letras minúsculas, fora as expressões regionais que o tradutor precisa adaptar para o idioma destino.

Ao mesmo tempo, ser tradutor significa estar em contato com as coisas mais diversas possíveis, com as expressões mais malucas possíveis.

Tradutor é um operário das letras. Traduzir é como tocar um instrumento que todos ouvem, mas não sabem quem está tocando.

E todas as pessoas, todas as vezes que lerem um livro de autor estrangeiro em sua versão em português, deveriam pensar que um tradutor passou semanas e semanas traduzindo, dia e noite, palavra por palavra, o texto na língua original. E pensou em como escrever pra vocês entenderem o que o autor quis dizer em seu idioma original.

Tradutores de livros ganham muito mal, são pressionados por prazos absurdos, dados pelos editores mascateiros.

Não traduzo mais livros, embora adoraria fazer isso o tempo inteiro. Só que morreria de fome. Então traduzo para empresas, que precisam das traduções rapidamente e pagam bem. E precisam confiar no que o tradutor escreve.

Hoje mesmo, traduzi dois textos: um sobre o Efeito Estufa, as alternativas de combustíveis e suas conseqüências nas estratégias dos fabricantes de automóveis. O outro era sobre as empresas precisarem se adaptar aos novos tempos, em que os consumidores estarão atentos às empresas que se preocupam com o meio ambiente, com reduzir a poluição, em serem ecologicamente corretas, etc.

Fora outro dia em que tive que traduzir o cardápio de cinco restaurantes chiques de Sampa: Baretto, Antiquarius e outros, onde os caras iam levar os gringos que estavam visitando a sucursal brasileira. E sobrou pra mim explicar o rango em inglês. Até que foi divertido.

Preferiria traduzir um livro, mas assim caminha a humanidade.

Em geral, quem atua nesse mercado de tradução de livros são mulheres que não vivem de tradução, e fazem isso por não terem nada melhor pra fazer, não sustentam família. Exceção para os escritores famosos que são chamados para traduzir algum livro em especial, como aconteceu com Monteiro Lobato, etc. Mesmo assim, não são pagos com justiça.

2 Comments:

At 3/10/07 12:55, Anonymous Anônimo said...

Putz, é verdade.
A Cris K. é, mas nunca lembra a data! . . . Passou os dias 29 e 30 (respectivamente sábado e domingo!) sentada a traduzir . . .

 
At 3/10/07 23:36, Anonymous Anônimo said...

É isso mesmo. Só não concordo que as mulheres que traduzem livros "não têm nada melhor pra fazer". Como assim? Nada disso. É preciso muito amor à literatura, dedicação e, principalmente, competência para trabalhar nessa área.
Beijossss

 

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