Ah, os meninos...

Ontem fui ao supermercado aqui pertinho de casa. Mal estacionei e veio um rapaz alto e magro:
-"Posso olhar, tia"?
Ai, que eu nunca me acostumo com esse "tia", mas como sempre, fiz sinal de positivo. Pode olhar, fazer o que? Eu ia ser rápida na compra. Só gengibre, mel e limão para um chazinho pro O. Mas o rosto do rapaz me pareceu conhecido.
Fiz a compra e em menos de 10 minutos estava saindo. Claro que o rapaz veio pegar a sua moedinha. Olhei bem pro rosto dele novamente, e lembrei de imediato:
-Você não é aquele menininho que ficava aqui há anos atrás?
-Sim. Sou eu mesmo. Eu estava lembrando da senhora.
-Nossa, como você cresceu, menino. Só o reconheci por causa do rostinho redondo, pelo formato do rosto.
Ele sorriu e nada falou, mas eu continuei.
-Por onde andou todos esses anos?
-Ah, por aí. Tive outros empregos. E agora voltei.
-Você ainda gosta de biscoitos recheados?
-Claro. Gosto muito.
-Então da próxima vez você vai ganhar um biscoito recheado
(eu não ia voltar pro mercado, comprar, né?)
-Que bom. Muito obrigado, vai com Deus.

Fiquei pensando: quantos anos terá agora? 18, 20? Não decifrei. Só sei que na época que eu o via frequentemente, ele tinha menos de 10 anos. Aí fico a pensar: como vivem esses meninos? Essas crianças que crescem e viram adolescentes e até homens nas ruas?
Pensei numa frase que ouvi um personagem falar na novela: "vai morrer cedo, rapaz... porque não existe bandido velho"
Esse menino não é bandido, quero acreditar. Mas vive de olhar carros onde não precisa de "olhador". A presença dele, impõe que se dê uma moedinha, ao menos. Quem sou eu pra não dar e consertar o mundo? Imagine. Sempre tive simpatia nesse menino. Mas não sei se é bom pra ele viver de "olhar carros" na porta de supermercados. Mas também não saberia como aconselhá-lo ou ajudá-lo.
Fiquei triste.