Eu não nasci de óculos - parte II

Sábado pela manhã O. foi instalar uns lustres na casa nova do Bru e da Liriri, e eu fui para a ótica. Peguei os óculos. Lindos.
O. voltou na hora do almoço e foi afoito "vestir" os óculos.
-Não enxergo nada! Não enxergo nada! Cadê que eu ia ficar mais confortável? Cadê que ela disse que eu não ia mais tirar os óculos da cara? Eu não enxergo nada! Enxergo melhor sem eles do que com eles.
R., que estava presente ponderou:
-O., as vezes a gente demora pra se adaptar. Tente ficar um pouco, tirar, colocar de novo.
-Imagine. Simplesmente impossível usar. Eu não estou louco!
E foi ficando muito bravo.
E de repente, assim, bem à moda O. de ser, foi falando aos poucos tudo o que pensava da moça da ótica:
"Filha da mãe! Fala mais que a boca e faz coisa errada. Onde já se viu? Eu suo? Como assim, não recomendo o uso de lentes anti-reflexo, porque o sr. sua? Eu vou dizer quem sua. Odeio gente assim, que tira conclusões, que analisa. E ainda me chamou de velho. O tempo todo me chamando de senhor. Detesto isso. Detesto. Incompetente! Um profissional não pode falar demais. Ela fala demais. Trabalha de menos. Ela errou. Falou tanto que escreveu errado. Sua amiga, né? Pois eu vou deixar esses óculos no porta luvas do carrro e só vou colocar na cara na hora que um guarda me parar.Já me acostumei à cegueira mesmo."

E por aí continuou a brontolação de O. Não adiantou argumentar que iríamos levar os óculos para o médico conferir, não adiantou nada. Ele ficou muito bravo e cá pra nós... dá pra entender, né?
L. também tentou fazê-lo experimentar outras vezes os óculos, mas irredutível, ele disse: "não!"

Ele tinha certa razão, mas deveríamos testar os óculos. Tentamos de tudo para acalmá-lo, e pra ser franca, foi mais engraçado do que trágico. Ninguém segurava a bronca do O. Pobre marido meu...