08 dezembro 2004

Alforria (Emília Casas)

Vejam que pérola de poesia.
Queria tê-la escrito.
Beijos alforriados


Homens de mim foram donos:
Pai, marido, filho , amante
Já despertei do mau sono:
De mim sou dona o bastante

Hoje caminho sem pressa
Com sorriso descansado
O olhar só de preguiça
Demorado como missa,
Mas cheinho de pecado
E assim, cheia de graça,
Sem ser a Virgem Maria
Mostro ao homem que passa
Minha carta de alforria

Não crê e diz que me quer
(Aí começa seu drama)
De forno e fogão mulher
Mas já sou de mesa e cama


Caiam todos botões
Fiquem calças sem bainha
Guarde todos seus perdões
Pra outra falsa rainha
Sou mulher...isso me basta
Sem rei, sem cetro e nome
Nunca mais santa e casta
Com sede de amor e fome

Só quem escuta a lua
Meu gozo gemido escuta
E assim, só pêlo, nua
Minhas carícias esbanjo
Me entregando toda puta
Pra quem me enxerga só anjo!